Best of You

Best of You
(Foo Fighters)


Foi quando Davi completou 30 anos que se deu conta do que realmente estava acontecendo. Já havia passado por alguns empregos diferentes, sempre lidando com burocracia e gente de mau humor, clientes insuportáveis que nem eram seus patrões de verdade.

Sempre pensou que não podia reclamar: tinha dinheiro pra cerveja do fim de semana, pro motel, roupas novas e ainda juntava pra viajar de vez em quando. Nada errado, certo?

Antes fazia estágio e faculdade, depois ficou empregado em tempo integral. Estando em casa, se afundava na televisão, mesmo sem ter nada de interessante - e com a tv a cabo, tinha mais de 100 canais com nada de interessante pra zapear. De vez em quando lia um livro, mas sem muito entusiasmo. Pensava em fazer uma pós, mas ainda não sabia do que falar.

Sexta-feira ia pra happy hour. Depois vinha todo o fim de semana: jogar bola, namorar, sair pros barzinhos e virar a noite, assistir ao filme ou à peça da moda.

Sua vida era boa, por que não se conformar? De onde surgia o vazio que julgava possuir? Seria a falta de um grande amor? Não, já tivera um grande amor, não era isso. O que tanto queria, afinal?

Talvez fossem os sonhos... O reino encantado das histórias infantis, a musa intocável da adolescência, os momentos que passava em frente ao espelho se imaginando ator de cinema, os banhos em que se imaginava cantor, as histórias que bolava pra um dia escrever um livro, a vontade de mudar o mundo da juventude... Peraí, tinha 30 anos, não era nenhum velho.

Olhou para sua casa: movéis lindos, tv digital, dvd, home theater, celular com câmera, que toca mp3 e dá pra ver filmes... Tudo que desejava conseguia, e por seus próprios esforços, com sua própria grana.

Mesmo assim, suspeitava que o dinheiro não era solução para tudo. Pensou, pensou, todavia não encontrou uma resposta satisfatória. Resolveu então ir pro shopping e comprou a calça jeans que tanto queria. A loja estava com uma promoção imperdível!


Imagem: Tempos Modernos, de Charles Chaplin.

Trains to Brazil

Trains to Brazil
(Guillemots)

Vivos ou mortos, os terroristas devem ser capturados. Estamos na Era do Medo, onde em cada esquina podemos ser assaltados, violentados ou explodidos em mil pedaços por um fanático religioso. Não se pode confiar em ninguém, a regra é cada um or si.

A população amedrontada vem pedir à nós a proteção que não encontra. Por outro lado, exige que façamos o trabalho sujo gentilmente, devemos pedir licença antes de baixar o sarrafo.

Mas como identificar um terrorista? Por definição, terrorista é quem causa o terror. E o que causa terror é o diferente. Num país de população nativa de pele branca, qualquer um com a pele morena é considerado "outro", "estrangeiro", e a presença dessa gente nas ruas já é motivo suficiente para instaurar o pânico. Se correr da polícia então, tá na cara que é culpado e merece levar um tiro. Ou vários.

Não passa na cabeça de ninguém que ele poderia estar assustado, pensando que os "outros" somos nós. Ao menos não pensei nisso quando o matei. O que desejava era pegar o "bad guy", possibilitar a meus compatriotas uma noite de sono em segurança.

Só que peguei o cara errado, e até hoje sou eu quem não consegue dormir. Todas as noites, tento voltar no tempo e me impedir de apertar o gatilho. Entretanto, consigo apenas encarar o cano serrado de minha pistola e me identificar com a escuridão de seu interior.


Imagem: "Santuário" de Jean de Charles de Menezes, na entrada da estação de Stockwell. Foto de Caroline Ford.

Meeting Paris Hilton

Meeting Paris Hilton
(CSS)

Paris Hilton fez plástica no nariz!
Paris Hilton fez boquete na internet!
Paris Hilton fez programa na tevê!
Paris Hilton fez orgia na mansão!

Paris Hilton, a dondoca das capas de revistas:
Paris Hilton, ninguém te amo pelo que você é!
Paris Hilton, você é uma puta!
Paris Hilton, por quê você não some?

Eu odeio Paris Hilton porque estou cansado de ver seu rosto!
Eu odeio Paris Hilton porque ela fez fama sem motivo!
Eu odeio Paris Hilton porque ela é podre de rica!
Eu odeio Paris Hilton porque ela nunca vai chupar meu pau!


Imagem: Orange and Yellow de Mark Rothko.